25.1.08

PRAÇA DA SÉ

Por ocasião de mais um aniversário da Cidade de São Paulo, estou dando início a uma série de postagens sobre diversos logradouros desta cidade, iniciando esta série pelo marco zero, sendo seu entorno outrora o centro das atividades comerciais, econômicas e de lazer da Cidade de São Paulo.
Ao lado esquerdo de quem entra na Catedral, ficava o Cine Teatro Santa Helena, prédio de uso comercial com o cine-teatro no térreo. Projeto do Arquiteto Italiano Corberi teve suas obras iniciadas em 1922 e concluídas em 1925. Por volta de 1933 sediou ateliê dos pintores Francisco Rebolo, Alfredo Volpi, Aldo Bonadei e muitos outros. Sediou também uma célula do Partido Comunista, que foi invadida pela polícia do Estado Novo. Infelizmente só conheci o Cine Santa Helena, já sem ser teatro, em sua decadência, no início da década de 60, mas posso atestar que continuava com sua imponência arquitetônica e sua beleza interior, já os filmes exibidos não posso dizer o mesmo. Mas antes tarde do que nunca!
Do outro lado da praça, na esquina com a Rua Barão de Paranapiacaba, ficava e fica até hoje o Bar e Pastelaria Modelo, onde eu desde os anos 60 sou fã do pastel de palmito, é o melhor de São Paulo ainda hoje, agora um pouco mais encharcado em oleo por conta da substituição do oleo de algodão pelo de soja. No meu outro bloguer: http://entresseio.blogspot.com vou publicar em breve a receita deste recheio de palmito que tanto me solicitam depois de conferir este pastel.

Praça da Sé em 1958, em primeiro plano o edifício que foi demolido para construção do Wilson Mendes Caldeira em meados dos anos 60, edifício moderno com fachada envidraçada que sediava escritórios e o restaurante "Juca Pato" no terreo, que ficava aberto a noite toda, numa época em que podia-se ir ao cinema no centro na sessão da meia noite, sair dele, tomar um lanche e voltar de ônibus por volta das 3:00 horas, sim havia ônibus a noite toda, nas linhas principais geralmente de hora em hora ou a cada meia hora. Foi demolido pouco mais de dez anos depois em decorrência das obras do metrô. Sua demolição foi por implosão, sendo o primeiro edifício no Brasil demolido por este método. Veja as fotos da implosão no Entresseio em postagem de 2006, no link abaixo:

Praça da Sé, Cine Teatro Santa Helena, década de 50

Interior do Cine Teatro Santa Helena, na Praça da Sé, década de 50

A foto é da praça Clóvis Bevilácqua em 1956, nos anos seguintes transformou-se em um imenso terminal de ônibus, ao fundo à esquerda o terminal dos bondes com as linhas 7-Penha, 11-Bresser, 24-Belém. No lado esquerdo entre esta praça e a Praça da Sé ficavam vários edifícios, dentre eles o Cine Teatro Santa Helena e o Wilson Mendes Caldeira.
Para se obter condução rumo ao Jabaquara, a única opção era o bonde na Praça João Mendes, com as linhas 27-Vila Mariana, 23-Domingos de Morais, depois rebatizada para Praça da Árvore e 66-São Judas e também a linha 101-Santo Amaro e na mesma praça em frente ao fórum saiam as linhas 4-Ipiranga, 20-Fabrica, 21-Heliópolis, 22-Cambucí e 32 Vila Prudente. Os bondes eram abertos e tinham um reboque sem motor. Às 18:00 horas partiam lotados com muita gente pendurada no estribo, eu e meu pai, quando íamos ao centro costumávamos aguardar o bonde na Praça Carlos Gomes no ponto em frente ao cine Joia e assim sempre conseguíamos viajar sentados, já com os bondes fechados este expediente não era possível.
A segunda opção eram os ônibus na Praça da Sé de onde saiam as linhas Jabaquara, Vila Mariana, Ipiranga, Fábrica, Mazini, Aclimação e outros. Na Praça Clóvis Bevilacqua saiam os ônibus com destino aos bairros da Mooca, Vila Prudente, Vila Maria, Vila Medeiros e alguns bairros da zona leste, bem como os ônibus da Viação Cometa com destino a Santos e São Vicente, cujo terminal ficava ao lado do quartel dos bombeiros que está lá até hoje. Já os ônibus do Expresso Brasileiro, com o mesmo destino saiam da Av. Rangel Pestana junto ao Parque Dom Pedro, logo após o prédio da Secretaria da Fazenda em um edifício na esquina que encontra-se lá até hoje.
Isto assim funcionava até 1975, quando então foi inaugurada a primeira linha do metrô rumo ao Jabaquara, lembro-me como se fosse hoje, utilizei este transporte logo nos primeiros dias de funcionamento, saia da Praça da Liberdade e se não me engano ia até a estação Saúde, logo em seguida entrando em funcionamento a linha norte-sul como é hoje da estação Conceição à estação Santana, sendo a extensão ao Tucuruvi bem mais recente.
Praça Carlos Gomes em 1964, o cine Jóia era um dos cinemas da Liberdade que só passavam filmes japoneses, o prédio hoje é um estacionamento. Foram os últimos anos de circulação dos bondes em São Paulo, dois anos depois seriam extintos neste local, e em 27-03-1968 com a extinção da Linha 101-Santo Amaro que já funcionava com ponto inicial na Rua Rodrigues Alves, ao lado do Instituto Biológico, seriam extintos definitivamente os bondes na Cidade de São Paulo.

Praça da Sé em 1938: A catedral estava em construção, o centro da praça era um imenso estacionamento, como todo e qualquer espaço no centro naquela época. Iniciava-se a Segunda Guerra Mundial que durou até 1945. Havia racionamento de gasolina e os carros rodavam com um equipamento que permitia movimentá-los com carvão, este equipamento chamava-se gasogênio e era um cilindro gigantesco adaptado na traseira de carros, ônibus e caminhões.
Praça da Sé em 1916: a rua à esquerda é a 15 de novembro e à direita é a Boa Vista, em direção ao Pateo do Colégio, local onde em 25 de janeiro de 1554, o Padre Manoel de Paiva, assistido por José de Anchieta, celebrou a primeira missa no então "Real Colégio de Piratininga", dando origem assim a esta cidade.
No lado direito ao bonde estacionado, que provávelmente era da Linha Santo Amaro, ficavam, como se pode ver, as carroças e charretes que eram os veículos mais usuais na cidade, os automóveis se contavam nos dedos nessa época. A charrete éra o taxi de hoje e a carroça equivalia a uma kombi usada no transporte de pequenas cargas. A operação dos bondes era feita pela Light até 1947, quando então foi fundada a CMTC que passou a operar os transportes de bondes e ônibus na cidade.
Hoje em dia pode parecer estranho, mas naquela época podia-se alugar um bonde para um casamento, batizado ou até funerais, bem como podia-se alugar também um bonde para transporte de materiais de construção ou qualquer outra carga, claro que tudo isto era possível desde que os destinos ficassem ao longo dos trilhos.
Silvio A. Neves

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